SOBRE “2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO”
Espetáculo soberbo e de grandes pretensões intelectuais, o filme de Stanley Kubrick mostra, sob a sombra do Friedrich Nietzsche de “Assim falou Zaratustra”, o embate entre o homem e a inteligência artificial, no caso representada pelo supercomputador HAL, cujo nome deriva de “heurístico algorítmico”. Com efeito, eis mais uma película que nos impele à reflexão, o que, já o tenho suscitado, indica a importância de uma obra de arte. Sendo assim, vejamos:
Em filosofia, a metafísica deriva da ilusão consistente em conferir autonomia à alma ou espírito, em contraposição ao corpo. Tal engodo, por seu turno, radica na oposição entre trabalho e pensamento. Explico: a necessidade de produzir e reproduzir heterônoma e diariamente a vida material enseja nos indivíduos a ilusória sensação de que seu pensamento, ao contrário do corpo, é livre, de que derivaria sua suposta autonomia.
O materialismo histórico mostrou a metafísica da mercadoria, plena de “manhas teológicas” na contraposição entre valor-de-uso e valor tout court: se o primeiro aspecto da mercadoria serve para satisfazer necessidades humanas, o segundo serve, na sua abstração, apenas para a acumulação infinita de capital, a despeito daquelas necessidades humanas.
Esta contradição metafísica e “teológica” da mercadoria somente poderá ser sobejada pela abolição da propriedade privada dos meios de produção, enfim, do capital e da supressão das classes sociais, quando então uma forma de Inteligência Artificial supranacional, mundial, será capaz de planejar a produção e reprodução diária da vida material de tal forma a exigir de cada um conforme suas potencialidades, e dar a cada uma conforme suas necessidades.
Neste caso, fica superada a forma mercadoria do produto social e extinto seu valor abstrato, valendo apenas seu valor-de-uso, a saber, sua aptidão para satisfazer necessidades humanas, e é este aspecto que será submetido à planificação por uma Inteligência Artificial mundial. Com a suplantação das manhas teológicas da mercadoria, extinguir-se-á toda a metafísica em matéria filosófica, pois os indivíduos na sua inteireza, unidade de corpo e pensamento, restarão real e plenamente livres do trabalho heterônomo: valerão as reais necessidades dos indivíduos, e não as necessidades do capital, alienadas daquelas.
Mas o que Nietzsche diz com isso tudo? Ora, este pensador procurou terminar definitivamente com toda a forma de metafísica em matéria de filosofia, mas talvez seu super-homem (übermenschen) advirá somente com o comunismo, tal qual vaticinado por Marx e os demais materialistas históricos.
(Por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)
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