Parece-nos que, assim como acontece com a gravidade, vigora uma lei consoante a qual à medida que o tempo histórico avança, a velocidade dos acontecimentos e das transformações históricas aumenta: considerando, verbi gratia, o desenvolvimento tecnológico, resta fácil constatar que a sociedade hodierna, sob o aguilhão do capital, impulsiona transformações e melhorias técnicas com velocidade impensável no período que Karl Marx denominaria antediluviano, a saber, anterior ao advento do capitalismo, máxime a partir da revolução industrial inglesa do século XVIII.
Parece-nos, outrossim, que com os indivíduos sucede, grosso modo, o mesmo no que pertine à percepção do tempo: com efeito, à medida que envelhecemos, temos a impressão de que o tempo escoa com maior velocidade.
Eu ousaria arriscar uma conjectura para explicar tal sensação individual de aceleração do tempo:
Ora, a percepção do tempo para o indivíduo depende do lapso temporal que ele já viveu, de tal sorte que, quanto mais idoso o indivíduo, mais veloz parece-lhe escoar o tempo, vale dizer, mais velozes parecem-lhe os acontecimentos.
Tentarei ilustrar esta conjectura com um exemplo bastante singelo: para uma criança de dois anos de idade, viver mais um ano significa acrescentar mais 50% do seu tempo de vida, ao passo que para uma pessoa de, digamos, cem anos de idade, viver mais um ano representa acrescentar apenas mais 1% do que já viveu; portanto, para o indivíduo, o tempo que acrescenta à sua vida é proporcionalmente cada vez menor e, destarte, parece mais veloz, parece escoar mais rapidamente.
Restaria examinar se há, então, certa mímese entre a velocidade de escoamento do tempo histórico e a do tempo individual, mas isto deixarei para outra publicação neste blog.
(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)