ESBOÇO
DE PROJETO DE ESTUDO SOBRE LÓGICA DIALÉTICA EM MARX E DARWIN
Georg
W. F. Hegel ensinou-nos, em sua Ciência da Lógica, a pensar
dialeticamente e, assim, prescindir do elemento divino nos estudos de
jaez científico, a saber, ensinou-nos a afastar o elemento
imponderável nos estudos científicos; demais disso, descortinou a
lógica do tempo histórico, isto é, do movimento diacrônico, tão
caro a autores do século XIX do porte de Karl Marx e seu admirado
Charles Darwin.
Tais
autores, no entanto, sucumbiram algures e em certa medida à lógica
formal aristotélica, que introduz, invariavelmente, aquilo que
denomino elemento imponderável ou divino nos estudos científicos:
no caso de Marx, tal elemento aparece como “mercado” ou
“concorrência”, malgrado todo o seu esforço no sentido de
criticar a economia política de seu tempo, em que tal elemento
exsurge preponderante; no caso de Darwin, conquanto crítico
superlativo do criacionismo, o elemento divino introduz-se
sorrateiramente na forma da “natureza” ou “meio ambiente”,
como procuraremos expor a seguir.
Marx,
no capítulo décimo do primeiro livro de sua obra magna, O Capital,
que versa especificamente sobre a mais-valia relativa, resvala na
ideologia do mercado e consectários, como a concorrência, ao
tentar, de forma a meu sentir infrutífera, discorrer sobre como o
capitalista pioneiro em seu ramo industrial, empregando inovação do
processo fabril que aumenta a força produtiva do trabalho, pode
vender sua mercadoria por um valor menor do que o vigente para tal
mercadoria, porém maior que o tempo de trabalho necessário para
produzir a sua mercadoria, derrotando então a “concorrência” e
auferindo lucros exorbitantes. Sucede, no entanto, que a própria
acepção marxista de valor, exposta logo no primeiro capítulo de
sua magnum opus, representa
uma média social: ora, como pode então o capitalista pioneiro
vender sua mercadoria por um valor menor que o valor vigente para
tal mercadoria, se tal valor é, conceitualmente, uma média social
que, portanto, abroquela também o tempo de trabalho que tal pioneiro
dispende para produzir tal espécie de mercadoria? Não faz sentido,
o que nos oferece um exemplo patente de como Marx resvalou na lógica
formal, e mesmo em uma aporia formal, ao incorporar de forma acrítica
o elemento imponderável da concorrência, típico da economia
política que ele tanto se empenhou em desmistificar.
De
maneira um tanto mais genérica e difusa, o mesmo ocorre com Charles
Darwin em sua “A origem das espécies”, que incorpora também
acriticamente o elemento imponderável da luta pela existência (uma
certa “concorrência” biológica”) como fator da seleção
natural: ora, a dicotomia indivíduo versus meio ambiente,
encontradiça difusamente em tal obra, não se sustenta, porquanto os
indivíduos “são”, a saber, coincidem com o meio ambiente,
descabendo cogitar em maior ou menor aptidão ao mesmo. Um exemplo
muito rústico poderia esclarecer esse ponto: os ratos de coloração
mais escura adaptaram-se melhor à perseguição das raposas
porquanto são presas menos fáceis em relação ao campo de visão
desses seus predadores. Ora, por que motivo as raposas não
desenvolveram uma melhor visão para capturar os ratos mais escuros?
O elemento imponderável da seleção natural também reside na
aleatoriedade das mutações genéticas, bem como no assim denominado
“dogma central da biologia molecular”, estabelecido em 1958 por
Francis Crick: tal “dogma”, como qualquer outro elemento de jaez
religioso, começa a ser questionado pela ciência, com as recentes
descobertas de casos em que características adquiridas são
hereditariamente transmitidas, vide a respeito o interessante artigo
de Kevin Laland publicado no jornal Folha de São Paulo de
11/03/2018.
(por
LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)