sexta-feira, 8 de maio de 2020

ESBOÇO DE PROJETO DE ESTUDO SOBRE LÓGICA DIALÉTICA EM MARX E DARWIN


ESBOÇO DE PROJETO DE ESTUDO SOBRE LÓGICA DIALÉTICA EM MARX E DARWIN



Georg W. F. Hegel ensinou-nos, em sua Ciência da Lógica, a pensar dialeticamente e, assim, prescindir do elemento divino nos estudos de jaez científico, a saber, ensinou-nos a afastar o elemento imponderável nos estudos científicos; demais disso, descortinou a lógica do tempo histórico, isto é, do movimento diacrônico, tão caro a autores do século XIX do porte de Karl Marx e seu admirado Charles Darwin.

Tais autores, no entanto, sucumbiram algures e em certa medida à lógica formal aristotélica, que introduz, invariavelmente, aquilo que denomino elemento imponderável ou divino nos estudos científicos: no caso de Marx, tal elemento aparece como “mercado” ou “concorrência”, malgrado todo o seu esforço no sentido de criticar a economia política de seu tempo, em que tal elemento exsurge preponderante; no caso de Darwin, conquanto crítico superlativo do criacionismo, o elemento divino introduz-se sorrateiramente na forma da “natureza” ou “meio ambiente”, como procuraremos expor a seguir.

Marx, no capítulo décimo do primeiro livro de sua obra magna, O Capital, que versa especificamente sobre a mais-valia relativa, resvala na ideologia do mercado e consectários, como a concorrência, ao tentar, de forma a meu sentir infrutífera, discorrer sobre como o capitalista pioneiro em seu ramo industrial, empregando inovação do processo fabril que aumenta a força produtiva do trabalho, pode vender sua mercadoria por um valor menor do que o vigente para tal mercadoria, porém maior que o tempo de trabalho necessário para produzir a sua mercadoria, derrotando então a “concorrência” e auferindo lucros exorbitantes. Sucede, no entanto, que a própria acepção marxista de valor, exposta logo no primeiro capítulo de sua magnum opus, representa uma média social: ora, como pode então o capitalista pioneiro vender sua mercadoria por um valor menor que o valor vigente para tal mercadoria, se tal valor é, conceitualmente, uma média social que, portanto, abroquela também o tempo de trabalho que tal pioneiro dispende para produzir tal espécie de mercadoria? Não faz sentido, o que nos oferece um exemplo patente de como Marx resvalou na lógica formal, e mesmo em uma aporia formal, ao incorporar de forma acrítica o elemento imponderável da concorrência, típico da economia política que ele tanto se empenhou em desmistificar.

De maneira um tanto mais genérica e difusa, o mesmo ocorre com Charles Darwin em sua “A origem das espécies”, que incorpora também acriticamente o elemento imponderável da luta pela existência (uma certa “concorrência” biológica”) como fator da seleção natural: ora, a dicotomia indivíduo versus meio ambiente, encontradiça difusamente em tal obra, não se sustenta, porquanto os indivíduos “são”, a saber, coincidem com o meio ambiente, descabendo cogitar em maior ou menor aptidão ao mesmo. Um exemplo muito rústico poderia esclarecer esse ponto: os ratos de coloração mais escura adaptaram-se melhor à perseguição das raposas porquanto são presas menos fáceis em relação ao campo de visão desses seus predadores. Ora, por que motivo as raposas não desenvolveram uma melhor visão para capturar os ratos mais escuros? O elemento imponderável da seleção natural também reside na aleatoriedade das mutações genéticas, bem como no assim denominado “dogma central da biologia molecular”, estabelecido em 1958 por Francis Crick: tal “dogma”, como qualquer outro elemento de jaez religioso, começa a ser questionado pela ciência, com as recentes descobertas de casos em que características adquiridas são hereditariamente transmitidas, vide a respeito o interessante artigo de Kevin Laland publicado no jornal Folha de São Paulo de 11/03/2018.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador)

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