Não é por acaso que o mais recente filme de David Cronenberg, intitulado "Mapas para as estrelas", ambienta-se na Califórnia: esse Estado norte-americano não é apenas o epicentro da indústria cinematográfica, mas representa, com seu Vale do Silício, a locomotiva hodierna do capitalismo mundial.
Essa obra de Cronenberg trata sobretudo da dobra que a família faz sobre si mesma no incesto, o que a conduz à autodestruição. Mas cuida também do "mundinho" de Hollywood, cujos protagonistas vivem em um círculo auto-referente que gira em torno de si mesmo de forma incessante, triturando tais protagonistas impiedosamente: mais uma vez, uma maneira de dobrar-se sobre si mesmo e autodestruir-se.
Mas o capitalismo mundial, impulsionado pela Califórnia, também faz suas dobras, as quais poderão conduzir, em futuro incerto, à sua autodestruição, como vaticinou Karl Marx. Eu mesmo, aqui neste blog (vide "Conjecturas sobre capital, obsolescência e universalidade"), tentei alertar para isso: a necessidade de arrostar a queda tendencial da taxa de lucro determina que o capital seja obrigado a criar continuamente novos valores-de-uso, novas necessidades humanas, cuja característica consiste em aumentar a velocidade de circulação do próprio capital, de tal sorte que a reprodução do capitalismo fica cada vez mais difícil.
O mestre David Cronenberg, mais uma vez, exibe sua fértil genialidade.
(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)
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