domingo, 31 de agosto de 2014

RIO DE JANEIRO: A NOVA CALIFÓRNIA BRASILEIRA?

Decididamente, o Rio de Janeiro está em alta.

A revista “Forbes” de agosto do ano corrente publicou uma nova lista dos bilionários mais afortunados do Brasil, em que há seis cariocas entre os 10 mais bem colocados, e nenhum paulista.

O jornal “Folha de SP” registrou em 23 de agosto, por seu turno, que a região metropolitana do Rio de Janeiro ostenta atualmente uma média salarial maior do que a da capital paulistana.

O carioca Artur Ávila, do prestigioso Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, do Rio de Janeiro, foi o primeiro latino-americano laureado com a Medalha Fields, considerada o Nobel dessa ciência: ele estudou ainda nos festejados colégios cariocas de São Bento e Santo Agostinho, reiteradamente entre as primeiras escolas do elenco do ENEM, afora ter-se graduado na UFRJ.

Enquanto isso, a USP enfrenta um perigosíssimo processo de crise financeira.

Parece que a outrora poderosa economia paulista vai começando a perder terreno, talvez pelo fato de estar muito vinculada à velha indústria das primeiras revoluções tecnológicas.

No Rio de Janeiro, ao revés, assim como ocorreu com a Califórnia de Hollywood, a promissora indústria de entretenimento, nomeadamente mídia e comunicação, exibe um peso bastante importante, bastando saber que a cidade é sede das Organizações Globo, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, além de acolher empresas de telecomunicações como CorpCo, TIM, NET, Embratel, Intelig e StarOne.

O Rio de Janeiro também produz 65% do cinema nacional, conta com um grande parque gráfico-editorial e ainda uma indústria fonográfica de muito relevo, com empresas como EMI, Universal, Sony BMG, Warner e SomLivre.

A indústria relacionada às novas formas de necessidades humanas, lastreadas na mídia e entretenimento, bem assim à nova tecnologia de informação, parece mais alvissareira do que a velha indústria de São Paulo, de geração tecnológica anterior.

Ora, o Rio de Janeiro ainda não é o Vale do Silício brasileiro, até mesmo porque o Brasil ainda não passou pela revolução tecnológica da informática, mas aparenta estar bem mais perto de ser uma nova Califórnia latino-americana, se comparada a São Paulo.

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

MÉDICOS (GINECOLOGISTAS) E MONSTROS

SOBRE O FILME "DEAD RINGERS" (1988) 

Este filme está, decerto, entres os mais instigantes e interessantes a que já tive a oportunidade de assistir. Como sói acontecer em sua cuidadosamente elaborada obra, o respectivo diretor David Cronenberg, mais uma vez, procura escrutinar os tênues limites envolvidos na problemática dicotomia entre natureza e civilização, desincumbindo-se com a comezinha maestria.

Muitas questões são abordadas na película, mas destaco o aberrante relacionamento entre os gêmeos univitelinos Elliot e Beverly Mantle, renomados ginecologistas de Toronto, com a infértil e mutante atriz Claire Niveau, dotada de um igualmente aberrante útero trifurcado.

Beverly, o mais sentimental dos gêmeos, logo apaixona-se por Claire e passa a compartilhar com ela um deletério vício por medicamentos controlados. Aqui já exsurge a questão: fármacos são de fato uma prova da transformação bem sucedida da natureza pela civilização? O que dizer dos efeitos colaterais e da dependência química?

Obcecado com sua parceira trifurcada e manipuladora, Beverly incorre em psicose e encomenda a um artista a confecção de instrumentos ginecológicos com formas orgânicas grotescas para, supostamente, operar mulheres mutantes, instrumentos estes que evocam a arquitetura de Antoni Gaudí ou a geometria fractal de Benoit Mandelbrot: aqui a natureza orgânica impõe-se à ciência linear inventada pela civilização.

Mas o interessante mesmo do filme, e que o faz muito atual para nós brasileiros, é a questão da pretensa onipotência da ciência, aquela mesma capaz de transformar médicos (ginecologistas) em monstros.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

EDUCAÇÃO PARA TODOS.

"Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes" (Isaac Newton)  

O indivíduo humano é um ser social não apenas por pertencer à sociedade de sua época, mas por ser fruto das gerações que o precederam, de tal sorte que o tempo passado constitui a sua identidade tanto quanto o tempo de sua existência corpórea. Logo, como ser social, o indivíduo humano é também um ser histórico. O mesmo sucede com o conhecimento, que é histórico e cumulativo, de que se dessume que o cuidado com a transmissão do conhecimento aos indivíduos, por intermédio da educação, constitui a única forma de manter uma sociedade saudável e em progresso acelerado.

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

DEMOCRACIA DIRETA OU "HORIZONTAL"

TESES SOBRE JUNHO DE 2013: SOBRE A EMERGENTE DEMOCRACIA HORIZONTAL.

1. A revolução microeletrônica, ou revolução no campo da tecnologia da informação, exerceu influência no próprio modo de produção capitalista com a robótica, por exemplo, que aumentou a composição orgânica do capital e provocou um decréscimo, portanto, nas taxas de lucro.

2. Ao mesmo tempo, tal revolução compensou a queda das taxas de lucro mediante o aumento da velocidade de rotação do capital, através de melhorias e incremento dos serviços como transportes e telecomunicações, no setor terciário da economia.

3. De 1 e 2 deriva que aumentou muito a proporção da população empregada no setor terciário (novas classes médias) em relação à população fabril do setor secundário.

4. De 3 deriva que as novas classes médias do setor terciário da economia, proporcionalmente em ascensão, tomaram certa dianteira política em relação aos trabalhadores fabris, o que restou patente nas jornadas de junho de 2013 no Brasil.

5. A nova forma de organização política horizontal do Movimento Passe Livre é típica das novas classes médias do setor terciário da economia, que por ora não emulam pelo poder estatal, mas pode e deve ser incorporada pela forma política partidária que efetivamente disputa o controle do poder estatal.

6. A forma política do partido tradicional está historicamente vinculada à luta de classes entre capital e trabalho, entre burguesia e proletariado, mas deve ser atualizada para incorporar os movimentos horizontais do setor terciário da economia e suas correspondentes classes médias em ascensão.

7. Já que o setor terciário da economia, a saber, a nova classe média organiza-se em movimentos políticos horizontais através das redes sociais da internet, seria preciso que o partido político tradicional de esquerda engendre sua própria rede social para atender demandas desse setor da economia, bem assim incorpore formas dinâmicas de democracia direta, que designamos “democracia horizontal”, nas suas redes sociais.

8. Denominamos “democracia horizontal” porque tais movimentos horizontais votam e pugnam por reivindicações e propostas concretas (democracia direta) e não em representantes e líderes políticos (democracia representativa).

9. O MPL, por exemplo, constitui forma de organização horizontal de democracia direta que vota e luta por reivindicações concretas na área de transporte público gratuito.

POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

OUTRAS CONJECTURAS SOBRE HISTÓRIA ECONÔMICA E PLANIFICAÇÃO

1) A contradição ínsita à forma mercadoria, nomeadamente entre seu valor (aspecto abstrato, “gelatina” de trabalho abstrato, indiscriminado) e seu valor-de-uso (aspecto concreto, apto a satisfazer necessidades humanas), desdobra-se na contradição entre o processo de produção e o processo de circulação de capital.

2) Quanto ao primeiro processo, interessa apenas o aspecto abstrato da mercadoria, a saber, a produção de mais-valia, a valorização de valor abstrato.

3) Quanto ao segundo processo, interessa a realização da mais-valia, a saber, sua concretização pela venda da mercadoria, o que enseja o reinício do ciclo do capital. Ora, aqui interessa o valor-de-uso da mercadoria, sua aptidão para satisfazer necessidades humanas concretas.

4) Bem, a primeira Revolução Industrial, na década de 1770 na Inglaterra, afetou basicamente o primeiro processo, aquele de produção de capital, sem criar novas necessidades humanas concretas, sendo certo que a indústria têxtil, já então existente, foi revolucionada em seu processo de produção.

5) Duzentos anos depois, nos Estados Unidos da América, uma nova revolução industrial, nomeadamente a revolução informática, passa a afetar também e principalmente o processo de circulação de capital, aquele atinente ao valor-de-uso da mercadoria, isto é, seu aspecto concreto, pois não apenas acelerou este processo de circulação, mas também criou novas necessidades humanas concretas, como o uso de computadores, celulares, tablets, etc.

6) Tal revolução informática derrotou fragorosamente a expansão econômica dos países de planificação socialista lastreada no aspecto abstrato da mercadoria, a saber, no processo de produção de capital, na medida em que revolucionou precisamente o processo de circulação de capital, onde se divisa o aspecto concreto da mercadoria, seu valor-de-uso, afora engendrar novas necessidades humanas, novos valores-de-uso.

7) O desafio hodierno consiste, pois, em suplantar a crise mundial do capitalismo mediante uma planificação econômica em que se divise o processo de circulação das mercadorias e seu aspecto concreto de valor-de-uso, o que já se delineia de forma embrionária e incipiente nos sítios de comércio eletrônico, como Amazon e Alibaba, que permitem obter um panorama e um mapeamento mais ou menos fiéis da realidade concreta da oferta e demanda de mercadorias como valores-de-uso.

(Por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

HIPÓTESE SOBRE COMÉRCIO ELETRÔNICO GOVERNAMENTAL

HIPÓTESE SOBRE COMÉRCIO ELETRÔNICO GOVERNAMENTAL

As corporações de ofício medievais colimavam, mediante coordenação de oferta e procura, obstar tanto a subsunção plena da produção artesanal à forma mercadoria, como também a separação entre força de trabalho e meios de produção, vale dizer, a transformação da própria força de trabalho em mercadoria.

Os Estados mercantilistas apenas expandiram tal coordenação para abranger o âmbito nacional como um todo, entravando a penetração do capital mercantil no âmbito da produção material.

A acumulação primitiva e a revolução industrial verificadas pioneiramente na Inglaterra completaram, todavia, a subsunção da produção industrial ao capital com a respectiva transformação da força de trabalho em forma mercadoria.

Isto posto, a hipótese que lançamos consiste na necessidade da planificação econômica de jaez socialista abolir a forma mercadoria, mediante controle, inicialmente, não do processo de produção de capital, mas do processo de circulação de capital.

O escopo do controle inicial do processo de circulação de capital consiste em acelerar tal processo para que seu tempo de duração fique nulo, a saber, tendencialmente igual a zero, quando então restabelecer-se-á a coordenação perdida entre oferta e procura e a forma mercadoria começará a extinguir-se.

Dadas tais premissas de história econômica, interessante notar que a internet, mais uma vez, pode desempenhar importante protagonismo quanto ao escopo de extinção paulatina da forma mercadoria.

Com efeito, sítios de comércio eletrônico como o americano Amazon e o chinês Alibaba prestam grande serviço em favor desse escopo, na exata medida em que exibem aptidão para haurir um importante mapeamento da demanda dos produtos que oferecem à venda.

Ora, o mapeamento da demanda antolha-se-nos um passo inaugural considerável para a planificação econômica, com a resultante coordenação entre oferta e procura de mercadorias.

Nesse diapasão, economias de jaez socialista deveriam fomentar a eclosão de sítios de comércio eletrônico sob tutela governamental, como recurso comercial de obtenção de mapeamento da demanda, cujas informações podem instruir adequadamente a planificação da economia em geral.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)

domingo, 10 de agosto de 2014

CONJECTURAS ECONÔMICO-MARXISTAS DILETANTES

CONJECTURAS ECONÔMICO-MARXISTAS DILETANTES

Uma das contradições básicas do capital insere-se na contraposição entre seus processos, respectivamente, de produção e de circulação.

Para o primeiro processo, o ideal seria que o tempo de circulação fosse tendencialmente nulo, isto é, igual a zero, de tal sorte que a cada aumento da composição orgânica do capital, com a correspondente queda da taxa de lucro industrial, deveria corresponder uma diminuição do tempo de circulação para arrostar esta última consequência (queda da taxa de lucro), mediante o aumento da massa de mais-valia obtida no mesmo lapso temporal.

Para o segundo processo, o ideal seria que o valor da mercadoria fosse tendencialmente igual a zero e o número de mercadorias individuais tendencialmente infinito, como forma de maximização do lucro comercial e diminuição do tempo de estoque.

Disso resulta que o processo de produção de capital necessita da anulação do tempo do processo de circulação respectivo, ao passo que este necessita da anulação do tempo de produção, o que explica que as revoluções tecnológicas bem sucedidas afetem ao mesmo tempo os processos de produção e de circulação de capital, diminuindo simultaneamente seus tempos de manifestação.

Tal singela e incipiente conjectura deve ser demonstrada nas formas empírica e teórico-matemática.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal e historiador pela USP)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

AMPLIAÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO ECONÔMICO DE TRABALHO PRODUTIVO

AMPLIAÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO ECONÔMICO DE TRABALHO PRODUTIVO.

No decurso da história econômica, o conceito de trabalho produtivo ampliou-se, de tal sorte que se podem distinguir três fases bem delineadas, a saber:

1) Propriedade fundiária: até a revolução industrial inglesa do século XVIII, o conceito econômico de trabalho produtivo adstringe-se à atividade agropecuária, consoante, por exemplo, a teoria dos fisiocratas, notadamente François Quesnay;

2) Propriedade dos meios de produção: após tal revolução industrial, o conceito amplia-se para abroquelar também o trabalho fabril, atrelado ao processo de produção do capital, consoante livro primeiro de O Capital de Karl Marx;

3) Propriedade dos meios de circulação: com o advento da revolução informática, dos anos 1970-1980, o conceito de trabalho produtivo deve ser agora ampliado para abranger os trabalhadores envolvidos na circulação de capital, notadamente os serviços de informática, finanças, telecomunicações e transportes, que arrostam a queda tendencial da taxa de lucro do capital fabril ou industrial mediante aumento da velocidade de rotação do capital, sendo interessante notar que, hodiernamente, as economias do centro do capitalismo são dominadas pelo setor terciário, ou seja, o setor dos serviços.

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)

COMPLEMENTOS AO MEU ARTIGO "SOBRE VALOR E PREÇO" (REVISTA MOURO N. 8, DEZ. 2013)

1) A partir da inovação tecnológica e do consectário aumento da força produtiva do trabalho verificados em uma determinada planta fabril pioneira, tal inovação tende a difundir-se entre as demais plantas fabris individuais, do mesmo ramo de produção, em razão da concorrência de preços, de tal sorte que cada nova planta que adere à mencionada inovação diminui um pouco o preço, até que o preço do produto desse ramo industrial acabe por coincidir com o novo valor desse produto, que agora é derivado da difusão total da inovação técnica em todo esse ramo da indústria.

2) Quando todo o ramo industrial em questão, ou sua maior parcela, adere à inovação tecnológica, um novo valor do produto de tal ramo passa a vigorar, em razão da nova força produtiva do trabalho assim disseminada, e a mais-valia (relativa) somente voltará a ser possível com uma subsequente inovação técnica e seu consectário aumento da força produtiva do trabalho.

3) Como a cada nova adesão à inovação técnica geralmente vem acompanhada de diminuição do preço em razão da concorrência, conforme item 1, verifica-se uma diminuição paulatina da taxa de mais-valia, até sua anulação completa quando o novo valor do produto, já reduzido em razão do aumento da produtividade, passa a vigorar nesse ramo industrial, agora completamente tomado pela inovação tecnológica.

4) A queda gradativa da taxa de mais-valia, cf. item 3, é compensada pelo aumento da velocidade de rotação de capital e consectário aumento da massa de mais-valia no mesmo interregno temporal, derivados do menor preço pelo qual é vendido o produto e consequente domínio do mercado.

5) Tal queda gradativa da taxa de mais-valia, cf. item 4, também pode ser compensada pela acumulação de capital, com aumento absoluto dos capitais constante e variável na planta fabril (em nova proporção devida ao aumento da composição orgânica radicada na inovação tecnológica), de tal forma que se aufere assim uma maior massa de mais-valia.

6) Enfim, tal queda da taxa de mais-valia também pode ser compensada pelo simples aumento da jornada de trabalho, com proporcional aumento da massa de mais-valia, expediente este que, todavia, resta limitado pela jornada de trabalho máxima legalmente imposta.

(POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)

O PROBLEMA SOCIAL DA REALIZAÇÃO DA MAIS-VALIA

O PROBLEMA DA REALIZAÇÃO DA MAIS-VALIA NOS ESQUEMAS DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL TOTAL.

Marx parte do produto social M´ em sua investigação dos esquemas de reprodução do capital social total constantes do livro segundo de O Capital, inserindo-se, portanto, na tradição de Adam Smith, por ele criticado: eis, em nosso humilde sentir, um equívoco.

Impõe-se, todavia, partir de D, do capital-dinheiro, para saber que M´ contém valor maior do que aquele que foi adiantado em dinheiro para o produzir, ou seja, contém mais-valia, e portanto o capital social total precisa realizar tal mais-valia, a saber, necessita reconverter tal mais-valia em dinheiro (D´), sendo certo que, no entanto, introduziu no mercado apenas D, menor do que D´. Eis o problema, em suma: a realização da mais-valia social requer dinheiro em quantidade maior do que aquela que o próprio capital social total injetou no mercado ao comprar meios de produção e força de trabalho para produzir M´.

No esforço de explicar a realização dessa mais-valia constante de M´ (que é maior do que D), pedimos licença para partir do meu texto “Sobre valor e preço”, publicado na Revista Mouro número 8, de dezembro de 2013 (lastreado no capítulo X do livro primeiro de O Capital), para aventar que o capital somente produz mais-valia relativa, decorrente de aumento da força produtiva do trabalho em uma planta fabril tecnicamente pioneira, a saber, em um capital individual pioneiro específico, de tal sorte que a diminuição do preço de M´, produto desse capital pioneiro, enseja sua total realização no mercado ao concorrer com outras mercadorias da mesma espécie e mais caras.

Logo, a mais-valia constante de M´ somente realiza-se de forma individual e pioneira, às custas dos demais capitais individuais tecnicamente ultrapassados pelo capital individual que inova, em dado segmento da produção social, ao aumentar a força produtiva do trabalho. Tal capital individual pioneiro escoa toda a sua produção M´ em razão do menor preço, dominando o mercado dessa espécie de mercadoria e realizando, assim, a mais valia contida em M´.

Destarte, a realização da mais-valia, em geral, somente pode ser considerada e explicada individualmente, mas não socialmente, a saber, somente do ponto de vista da cada capital individualmente considerado, com as revoluções técnicas e de composição orgânica que o acompanham.

(Por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, procurador federal)

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PARA UMA TEORIA ECONÔMICA DOS FATORES LIMITANTES

PROLEGÔMENOS PARA UMA TEORIA ECONÔMICA DOS FATORES LIMITANTES

Até o advento da Revolução Industrial inglesa do século XVIII, o fator limitante da produção da vida material corresponde às forças naturais, máxime a força natural da terra arável, vale dizer, a força produtiva é basicamente a força da natureza e seus ciclos. O valor econômico, portanto, restava condicionado pela força da natureza e seus ciclos, do que resultou a teoria fisiocrática de que o trabalho produtivo era essencialmente aquele atrelado às atividades agropecuárias.

Com o advento da Revolução Industrial inglesa do século XVIII, as forças da natureza começam a ser dominadas e potencializadas pela humanidade, de tal forma que o fator limitante da produção econômica passa a ser a força de trabalho, a saber, o próprio corpo humano, e não mais as forças naturais. Por isso o valor econômico passou a ser determinado essencialmente pelo trabalho manual potencializado pelo processo fabril, máxime na teoria ricardiano-marxista do valor–trabalho.

As ulteriores revoluções tecnológicas no modo de produção da vida material da sociedade tornaram tendencialmente ínfima a quantidade de trabalho manual incorporado aos respectivos produtos econômicos, de tal sorte que o fator limitante deixou de corresponder ao trabalho manual, físico, e passou a identificar-se com o trabalho intelectual, agora potencializado pela revolução digital do último quartel do século XX.

Hodiernamente, portanto, o valor econômico é produzido somente pelo fator limitante correspondente ao trabalho intelectual, de tal sorte que somente a produção de inovação tecnológica encerra valor econômico.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA)  

HIPÓTESE SOBRE HISTÓRIA ECONÔMICA E DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

O curso da história econômica demonstra que o fluxo populacional nos distintos ramos da produção e reprodução da vida material segue os vetores do aumento da produtividade e do consectário aumento do excedente nesses ramos.

Assim, até o advento da primeira revolução industrial no século XVIII, a atividade econômica preponderante corresponde à agropecuária com baixo nível técnico, baixa produtividade e modesto excedente econômico, de tal sorte que a quase totalidade da população resta ainda presa ao trabalho braçal no campo, sendo quantitativamente restrita a população que, compondo a classe social dominante, não precisa realizar tal trabalho braçal e é alimentada por esses trabalhadores rurais.

Com o progresso técnico resultante do advento da primeira Revolução Industrial e com as revoluções técnicas ulteriores, máxime em decorrência do progresso do maquinário agrícola, o excedente econômico produzido pela atividade agropecuária é exponencialmente incrementado e passa a ser em grande parte consumido pela parcela da população envolvida na atividade industrial, de tal sorte que ocorre um fluxo migratório das regiões agrícolas para as regiões industriais urbanas. O trabalho braçal no campo é gradativamente substituído pelo trabalho manual nas fábricas, sendo que a população envolvida no setor secundário da economia aumenta sobremodo, em detrimento da população rurícola.

As ulteriores revoluções técnicas, por seu turno, incrementam a produtividade do trabalho fabril e o próprio excedente produzido por tal atividade, de tal sorte que se verifica um novo fluxo migratório em direção ao setor terciário da economia, caracterizado pelo trabalho intelectual, máxime seus departamentos envolvidos com produção de ciência e tecnologia, de tal sorte que o excedente econômico produzido no setor fabril é dirigido para consumo da população envolvida com o trabalho intelectual do setor terciário. É por tal motivo que o país com a maior produção e exportação de ciência e tecnologia, os EUA, consomem o excedente econômico produzido nos países industriais periféricos, máxime a China, e exibem uma distribuição populacional manifestamente favorável ao setor terciário da economia, com ampla liberação de trabalho manual em favor do labor intelectual. O setor educacional de tal país exerce papel decisivo na consecução de sua hegemonia quanto à produção de ciência e tecnologia no âmbito mundial. Destarte, a nova divisão internacional do trabalho apresenta não duas, mas três vértices que podem ser assim esquematizados, a grosso modo:

1) Países agrícolas (ex.: Brasil) produzem excedente econômico a ser consumido em

2) Países industriais (ex.: China) que produzem excedente econômico a ser consumido em

3) Países que produzem ciência e tecnologia (ex.: EUA).

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal e historiador pela USP) 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

HIPÓTESE SOBRE A DIALÉTICA DA MERCADORIA

HIPÓTESE SOBRE A DIALÉTICA DA MERCADORIA

As corporações de ofício medievais colimavam, mediante coordenação de oferta e procura, obstar tanto a subsunção plena da produção artesanal à forma mercadoria, como também a separação entre força de trabalho e meios de produção, vale dizer, a transformação da própria força de trabalho em mercadoria.
Os Estados mercantilistas apenas expandiram tal coordenação para abranger o âmbito nacional como um todo, entravando a penetração do capital mercantil no âmbito da produção material.
A acumulação primitiva e a revolução industrial verificadas pioneiramente na Inglaterra completaram, todavia, a subsunção da produção industrial ao capital com a respectiva transformação da força de trabalho em forma mercadoria.
Isto posto, a hipótese que lançamos consiste na necessidade da planificação socialista abolir a forma mercadoria, mediante controle, inicialmente, não do processo de produção de capital, mas do processo de circulação de capital, notadamente a forma dinheiro de tal processo.
O escopo do controle inicial do processo de circulação de capital consiste em acelerar tal processo para que seu tempo de duração fique nulo, a saber, tendencialmente igual a zero, quando então restabelecer-se-á a coordenação perdida entre oferta e procura e a forma mercadoria começará a extinguir-se.

(POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal)

DA CONTRADIÇÃO ENTRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO E O DE CIRCULAÇÃO DE CAPITAL

CONTRADIÇÃO ENTRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO E O PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DE CAPITAL

Penso que em um mundo ideal para o capital, o tempo de circulação seria igual a zero, de tal sorte que a realização da mais-valia exibir-se-ia instantânea, vale dizer, o tempo para venda das mercadorias também seria nulo.
Todavia, o aumento da força produtiva do trabalho tende a aumentar o tempo de circulação do capital em razão do aumento do volume de mercadorias a serem vendidas, afora fazer a taxa de lucro decrescer de forma tendencial.
É por isso que as revoluções tecnológicas que vingam afetam a um só tempo os processos de produção e de circulação de capital, aumentando a força produtiva do trabalho e diminuindo o tempo de realização da mais-valia pela venda das mercadorias.

(POR LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal)

domingo, 3 de agosto de 2014

REFINANDO A HIPÓTESE, TALVEZ AGORA MAIS INTELIGÍVEL

REFINANDO A HIPÓTESE HISTÓRICO-ECONÔMICA SOBRE AS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS DO CAPITAL

As revoluções tecnológicas pioneiras do capital afetavam basicamente o modo de produção da sociedade, a saber, o processo de produção do capital, conduzindo à queda da respectiva taxa de lucro em razão do incremento de sua composição orgânica.
A revolução tecnológica mais recente, ou seja, aquela vinculada à tecnologia da informação e, notadamente, a internet, afeta sobretudo o processo de circulação do capital, acelerando-o e arrostando a queda tendencial da taxa de lucro mediante aumento da massa de mais-valia obtida no mesmo lapso temporal, em razão da diminuição do período de rotação, sem que se altere a composição orgânica do capital.
Isto deve-se ao fato de que a taxa de lucro média do capital social total provavelmente atingira um patamar mínimo, abaixo do qual o sistema capitalista entraria em colapso, o que obsta doravante as revoluções do modo de produção, isto é, do processo de produção do capital, porquanto tais inovações provocam um incremento da composição orgânica respectiva.
Logo, com a internet, o capitalismo esgota sua capacidade de renovar o modo de produção e aumentar a produtividade do trabalho, a saber, de incrementar a composição orgânica do capital, eis que tal incremento reduziria a taxa de lucro a nível incompatível com a subsistência do sistema.
Esta singela hipótese ainda carece, evidentemente, de demonstração teórica e empírica.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

HIPÓTESE HISTÓRICO-ECONÔMICA SOBRE AS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS DO CAPITAL

HIPÓTESE HISTÓRICO-ECONÔMICA SOBRE AS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS DO CAPITAL

As revoluções tecnológicas pioneiras do capital afetavam basicamente o modo de produção da sociedade, a saber, o processo de produção do capital, conduzindo à queda da respectiva taxa de lucro. A revolução tecnológica mais recente, ou seja, aquela vinculada à tecnologia da informação e, notadamente, a internet, afeta sobretudo o processo de circulação do capital, acelerando-o e contrapondo-se à queda tendencial da taxa de lucro mediante aumento da massa de mais-valia obtida no mesmo lapso temporal. Isto deve-se ao fato de que a taxa de lucro do capital atingiu um patamar mínimo, abaixo do qual o sistema capitalista entraria em colapso final, o que obsta doravante as revoluções do modo de produção, isto é, do processo de produção do capital, de tal sorte que, com a internet, o capitalismo esgota sua capacidade de renovar-se, e depois dela será o socialismo ou a barbárie.

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal)