domingo, 23 de julho de 2017

THE FOUNDER

O filme "The Founder" ("Fome de poder", 2017) mostra bem didaticamente um caso particular de submissão do capital industrial ao capital financeiro, focando a história de sucesso do vendedor Ray Kroc ao transformar uma pequena lanchonete do interior da Califórnia no maior império mundial de "fast-food": o caso do conglomerado de alimentação "MacDonald´s"!

Posto isto, a película também suscita algumas questões, a saber:

É cediço que o filósofo marxista francês Louis Althusser sustentava que, grosso modo, "os indivíduos nada mais são do que vetores de determinações estruturais do capital", isto é, eles são meros suportes de relações de produção que contraem entre si de maneira completamente heterônoma.

Abstraindo certo exagero determinista de Althusser, pai do anti-humanismo teórico, a verdade é que o filme em comento também soube mostrar que o modo de produção capitalista promove, estimula e premia com sucesso financeiro e mesmo social alguns comportamentos e características fenotípicas bem pouco altruístas, como a ganância desmedida, a ausência de escrúpulos e a desonestidade mais desbragada.

Isso daria material para uma longa discussão no âmbito do assim denominado "darwinismo social", que não cabe aqui encetar. 

Mas, enfim, cuida-se de um bom e polêmico artefato cinematográfico, que recomendo. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, historiador) 
                             

domingo, 25 de junho de 2017

MOONLIGHT

É preciso que a vertente publicação adquira brevíssima magnitude, pois há coisas inefáveis. 

É o caso do filme de Barry Jenkins, do título em epígrafe, galardoado com o Oscar de melhor filme deste ano. 

Ele conta a história de um traficante afrodescendente homossexual de Miami, extraindo poesia lancinante ao retratar a periferia da periferia do centro do capitalismo. 

Com efeito, não há muito o que comentar do filme, apenas verter lágrimas copiosas ao assisti-lo. 

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)     

   

segunda-feira, 19 de junho de 2017

PROVOCAÇÕES MARXISTAS

Hipóteses bem incipientes para discussão no âmbito marxista:
1) a força de trabalho não é fruto do trabalho humano, portanto não exibe valor e não pode ser vendida como mercadoria;
2) nada garante que o valor produzido durante a jornada de trabalho seja superior ao valor das mercadorias que compõem as necessidades diárias de produção e reprodução da força de trabalho.
De 1 e 2 dessume-se que:
3) a mais-valia absoluta só pode decorrer da diferença entre o preço pago pelo capitalista ao trabalhador assalariado pelas mercadorias que este produz, isto é, o salário, e o valor efetivo destas mercadorias, sendo certo que o preço pago, o salário, é menor que o valor efetivo das mercadorias produzidas pelo trabalhador assalariado.
4) A diferença entre preço (salário) e valor, de que resulta a mais-valia absoluta, deriva da propriedade privada dos meios de produção e do exército industrial de reserva, que pressionam o salário para baixo.
5) O constante desenvolvimento técnico do capitalismo deriva da necessidade de incrementar o exército industrial de reserva para pressionar para baixo os salários.
São conjecturas bem incipientes para discussão, obrigado.
(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)

quarta-feira, 14 de junho de 2017

BREVES LINHAS SOBRE O REALISMO FANTÁSTICO.

Permitam-me efetuar uma brevíssima digressão sobre o assim designado "realismo fantástico". 

Ele parece-me, em boa medida, caudatário, assim como a filosofia de Popper e a psicanálise de Freud, do cartesianismo clássico, consoante o qual o único indício de que existo consiste no fato de que ouço meus próprios pensamentos: nesse diapasão, temos acesso a uma única realidade, a saber, o nosso próprio pensamento, o resto é incógnita.

Por outro lado, a própria locução "realismo fantástico" encerra uma contradição em termos: deveras, o romance ficcional não tem nada de realista, ele é pura invenção, pura fantasia, conquanto procure mimetizar, em certa medida, a "realidade".

A literatura de ficção do "realismo", destarte, abriu as portas, paradoxalmente, ao realismo fantástico, tendo mesmo como corolário a literatura qualificada como "do absurdo", cujos expoentes mais destacados são, ao que me parece, Kafka, Beckett e Ionesco. 

Mas deixo uma provocação: Descartes, Popper, Freud e outros, embora racionalistas e, portanto, avessos ao empirismo, acreditavam na ciência e em certa verdade que ela possa alcançar. 

Será que o elemento "fantástico" da literatura ou do pensamento não é tributário e devedor da realidade empírica, de onde ele haure sua inspiração?

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador)