Árdua é a tarefa do comentador do filme turco "Winter Sleep", do aclamado realizador Nuri Bilge Ceylan, galardoado com a Palma de Ouro em Cannes no ano de 2014, tamanha a complexidade e a beleza dessa obra de arte, o que nos faz arrostar o perigo iminente de resvalar em reducionismo ao procurarmos esquadrinhar a película.
Nada obstante, sucumbamos à tentação de ensaiar alguns rabiscos sobre esse nosso objeto de admiração e exame.
Aydin, homem de muitas posses, é a figura aparentemente mais poderosa do vilarejo onde mora e onde mantém um pequeno hotel, mas é também um ex-ator obstinado em escrever uma história do teatro turco.
É justamente esse poder, o material, que Ceylan coloca em questão: ele não parece valer muita coisa diante do sentimento de honra dos inquilinos de Aydin, nem tampouco diante do amor que este homem sente pela sua bela e bem mais jovem esposa Nihal.
No relacionamento do casal Aydin e Nihal, aliás, Ceylan encontra matéria bastante para debruçar-se sobre a dialética entre senhor e escravo, tão cara a Hegel.
Mas isso é pouco diante da magnitude da obra, que vale muito a pena ser vista e apreciada com bastante vagar, de acordo com o ritmo lento e introspectivo da câmera de Ceylan.
(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira)
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