sábado, 3 de janeiro de 2015

TRANSVALORAÇÃO HIPOSTASIADA.

Se Nietzsche propunha ostensivamente a aniquilação da metafísica platônico-cristã a marteladas, mediante o que designou "transvaloração de todos os valores", não é menos verdadeiro que Marx exortava os proletários de todo o mundo a, por assim dizer, usarem seus martelos contra a "valorização de valor" ínsita ao capital.

Bem, tais autores adotavam conceitos diversos de "valor", mas permitir-me-ei aqui fazer uma pequena digressão diletante sobre aquilo que há de comum entre os mesmos.         

Ora, parece-nos lícito aventar que o projeto marxista pode ser considerado uma certa hipostasia da transvaloração nietzscheana, na exata medida em que pretende liquidar com a alienação inerente ao trabalho humano abstrato e heterônomo, que colima tão somente a produção de mais-valia (ou valor excedente) para o capital. Mas isso de forma prática e concreta, mediante uma revolução social, ao passo que a superação dos valores metafísico-cristãos, segundo Nietzsche, opera-se no plano meramente teórico ou moral, ou no máximo comportamental. 

Todavia, há muito em comum entre a metafísica de Nietzsche e a alienação de Marx, pois ambas obstam que os homens tomem as rédeas da própria história em suas mãos, manietados que estão pelos céus, no primeiro caso, ou pelo capital, no outro. 

Ventilaríamos ainda que talvez, numa leitura livre, a transvaloração de Nietzsche exiba-se historicamente factível somente com a superação do capital, quando as "manhas teológicas" da mercadoria, consubstanciadas em sua dicotomia entre valor-de-uso e valor, serão suplantadas e os homens concretos assumirão o poder de dizer autonomamente quanto vale cada coisa e para onde querem ir, em uma tomada de assalto de sua própria história humana, demasiado humana. 

(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA).        



Nenhum comentário:

Postar um comentário