quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O DIÁLOGO COM AS FONTES NA METODOLOGIA DA HISTÓRIA.

Certa feita, meu professor de história medieval, o exímio historiador brasileiro Hilário Franco Júnior, fez uma instigante objeção ao método de seu colega britânico, o festejado marxista Perry Anderson, o qual, na obra Passagens da antiguidade ao feudalismo, não teria recorrido em seu trabalho às fontes primárias, documentais, adstringindo-se a manusear a historiografia disponível a propósito. 

Tal objeção antolha-se-nos bastante pertinente, conquanto problemática, senão vejamos. 

Ora, a historiografia disponível, em meu humilde sentir, não deve ser desprezada como fonte do trabalho do historiador, sob pena de se olvidar o avanço científico que ela representa (o "estado da arte", por assim dizer), como se todo o trabalho historiográfico fosse inócuo. Isaac Newton já advertia que enxergou mais longe pois apoiara-se sobre ombros de gigantes, e isto vale também para a história, como para as demais ciências humanas.   

Mas estou convicto de que o professor Hilário Franco Júnior aludia a uma questão metodológica mais delicada, a saber, o retorno às mesmas fontes primárias documentais. Bem, se a historiografia elaborada com fontes primárias guardasse o apanágio de dizer a verdade acabada sobre tais fontes, então, realmente, seria inútil e ocioso retornar indefinidamente a esses mesmos documentos, mas, evidentemente, não é isso o que ocorre nas ciências.           

O material empírico da disciplina histórica, a saber, isso a que tenho designado fontes primárias, não ostenta o condão de falar por si só, ele deve ser interrogado pelo historiador e, nesse caso, como aduzia Karl Marx, cada época da história humana formula as questões que lhe são pertinentes, e que pode responder. Por isso, as fontes primárias documentais devem ser sempre revisitadas, pois cada época histórica, considerando o avanço científico prévio, formula a tais fontes questões diversas por intermédio do ofício do historiador. 

Eis o interminável e necessário diálogo entre o historiador e suas fontes, primárias ou não, o qual garante o avanço científico da disciplina histórica. 

(por Luis Fernando Franco Martins Ferreira, historiador) 




     

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