O curso da história econômica demonstra que o fluxo populacional nos distintos ramos da produção e reprodução da vida material segue os vetores do aumento da produtividade e do consectário aumento do excedente nesses ramos.
Assim, até o advento da primeira revolução industrial no século XVIII, a atividade econômica preponderante corresponde à agropecuária com baixo nível técnico, baixa produtividade e modesto excedente econômico, de tal sorte que a quase totalidade da população resta ainda presa ao trabalho braçal no campo, sendo quantitativamente restrita a população que, compondo a classe social dominante, não precisa realizar tal trabalho braçal e é alimentada por esses trabalhadores rurais.
Com o progresso técnico resultante do advento da primeira Revolução Industrial e com as revoluções técnicas ulteriores, máxime em decorrência do progresso do maquinário agrícola, o excedente econômico produzido pela atividade agropecuária é exponencialmente incrementado e passa a ser em grande parte consumido pela parcela da população envolvida na atividade industrial, de tal sorte que ocorre um fluxo migratório das regiões agrícolas para as regiões industriais urbanas. O trabalho braçal no campo é gradativamente substituído pelo trabalho manual nas fábricas, sendo que a população envolvida no setor secundário da economia aumenta sobremodo, em detrimento da população rurícola.
As ulteriores revoluções técnicas, por seu turno, incrementam a produtividade do trabalho fabril e o próprio excedente produzido por tal atividade, de tal sorte que se verifica um novo fluxo migratório em direção ao setor terciário da economia, caracterizado pelo trabalho intelectual, máxime seus departamentos envolvidos com produção de ciência e tecnologia, de tal sorte que o excedente econômico produzido no setor fabril é dirigido para consumo da população envolvida com o trabalho intelectual do setor terciário. É por tal motivo que o país com a maior produção e exportação de ciência e tecnologia, os EUA, consomem o excedente econômico produzido nos países industriais periféricos, máxime a China, e exibem uma distribuição populacional manifestamente favorável ao setor terciário da economia, com ampla liberação de trabalho manual em favor do labor intelectual. O setor educacional de tal país exerce papel decisivo na consecução de sua hegemonia quanto à produção de ciência e tecnologia no âmbito mundial. Destarte, a nova divisão internacional do trabalho apresenta não duas, mas três vértices que podem ser assim esquematizados, a grosso modo:
1) Países agrícolas (ex.: Brasil) produzem excedente econômico a ser consumido em
2) Países industriais (ex.: China) que produzem excedente econômico a ser consumido em
3) Países que produzem ciência e tecnologia (ex.: EUA).
(por LUIS FERNANDO FRANCO MARTINS FERREIRA, procurador federal e historiador pela USP)
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